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Bebê de 700gr....15 anos depois

O encontro com as mães da UTI

Quinze anos depois, as médicas reencontram Victor, que nasceu com 700g e ajudou a criar métodos para cuidar de prematuros

Fernanda Aranda, iG São Paulo


Foto: Eduardo Cesar/ Fotoarena
A mãe, o filho e a médica: o prematuro que há 15 anos nasceu com 700g, sempre que pode comemora o Dia das Mães com a pediatra que garantiu sua sobrevivência





A primeira vez que as mãos da pediatra Filomena Bernardes de Mello tocaram os dedinhos de Victor dos Santos Gallo, ele pesava apenas 700 gramas, media menos do que 30 centímetros e acabara de nascer após uma gravidez de seis meses incompletos.
Naquele ano 1996, a criança era prematura demais para que a médica sentisse, com plena certeza, que o bebê tão pequenino sobreviveria. Quase quinze anos depois, as mãos de Filomena e Victor voltaram a se tocar.
O encontro, acompanhado pela reportagem, celebrou os “dribles” que o menino deu em todas as projeções pessimistas da medicina. “O quadro não era nada bom”, diz, com consciência de adulto, o hoje adolescente de 14 anos e 7 meses. Para Filó – como é chamada por todos na maternidade em que ainda trabalha – foi mais uma prova de que ter escolhido a função médica de tentar reproduzir o “útero” para meninos e meninas que nascem antes do tempo é mais do que um trabalho. “É uma missão”, diz ela.


Foto: Eduardo César/Fotoarena
Reencontro: a médica Filó foi a primeira a pegar a mãozinha do então bebê de 700 gramas. Quinze anos depois, a mão dele é maior do que a dela

A especialidade médica chamada neonatologia é aquela que cuida principalmente dos bebês prematuros ou que nascem com baixo peso severo – menor do que 1 quilo. Hoje, com a popularização das técnicas de fertilização in vitro e com o aumento da idade das mães, cresceram também as taxas de prematuridade das crianças.
Em 1996, ano em que Victor chegou ao mundo, os “apressadinhos” respondiam por 5,3% do total de partos, mostram os números do Ministério da Saúde. Uma década depois, passaram a representar 9% dos nascimentos em Estados como São Paulo, um crescimento de 27% no período.
Este aumento da demanda também veio acompanhado por mais tecnologia e pesquisas para tratar dos pequenos. Uma criança nascida após cinco meses de gestação hoje já não é mais uma raridade e as chances de sobrevida estão bem mais ampliadas.


Foto: Eduardo César/Fotoarena Ampliar
As neonatologistas "mães" de Victor: da esquerda para direita, Neusa Brandolise Takagi, a mãe Diva, Ana Cristina de Paula, Filó e Célia Maria Di Giovanni
Mas mesmo com todas as máquinas incubadoras de última geração – que ajudam a deixar quentinho o bebê, protegido e pronto para desenvolver-se fora da barriga da mãe – o papel do neonatologista é fundamental neste processo. É preciso monitorar cada batimento cardíaco, respiração, expressão facial, sono, choro. A intervenção precoce é o que garante a sobrevivência da criança prematura.
Nos oito meses que precisou ficar internado após o nascimento no dia 14 de setembro de 1996, Victor recebeu estes cuidados 24 horas por dia de uma equipe de neonatologistas majoritariamente feminina, coordenada pela Doutora Filó.
Leia o especial: Minha casa é a UTI
Todo ano, perto do Dia das Mães, o garoto volta ao Hospital e Maternidade Santa Joana de São Paulo para visitar as médicas que, acredita o menino, permitiram à sua mãe Diva Gallo comemorar de forma feliz o segundo domingo de maio. 
Vitorioso
Diva tentava engravidar havia dez anos. Inúmeras tentativas frustradas foram colecionadas até que, aos 38 anos, veio a confirmação da gravidez. “Estava tudo certo, fazia o acompanhamento com o pré-natal, não havia orientação médica para deixar de fazer nada. Era a mulher mais feliz do mundo, mas como já tinha tido abortamentos antes, tinha receio de perder o meu bebê”, lembra Diva.

A gravidez era comemorada, mas quase não deu para ser curtida. “Foi tudo muito rápido”, lembra. Um dia Diva sentiu uma dor e certo incômodo, foi para o Hospital Santa Joana só para checar se estava tudo bem e ali foi informada que precisava fazer um parto de emergência. Não compreendia muito bem como iria parir sendo que não estava grávida nem há seis meses. Mas fez força, empurrou e teve parto normal de um menino. “Não sabia que o sexo era masculino e nem tinha escolhido um nome para ele.”
O bebê era tão pequenininho que não chorou. O silêncio era forte na sala de parto. A criança foi levada à UTI neonatal, com complicações pulmonares e cardíacas muito sérias. “Eram só 700 gramas que aquele garotinho pesava”, pensou Filomena enquanto, pela primeira vez, segurava na mão do menino.
Os médicos não deram prognósticos muito favoráveis. A sobrevivência não podia ser garantida. Mas uma enfermeira disse uma frase que marcou Diva e o marido e ajudou a definir a identidade do protagonista desta história.
“Como lutou para sobreviver este menino”, disse. Pronto. Nome escolhido. Ele era um vitorioso. Vai chamar Victor.
Experiência in loco
Ter alta da maternidade e sair sem o bebê nos braços marcou Diva. Naquele momento tão difícil ela já havia criado laços de afetividade bem fortes com toda a equipe cor-de-rosa do Santa Joana. Com Filó, o carinho também era crescente e a mãe do Victor ficava até mais segura “e menos culpada” de passar algumas horas longe do hospital quando era ela que estava de plantão.

Victor foi o menor prematuro que nasceu naquele ano no Santa Joana. As roupas e os sapatinhos ficavam folgados nele, por menor que fossem. E as médicas, sem esconder da mãe, sabiam que ele seria uma fonte de aprendizado inesgotável. Iria ensinar o que, até aquele momento, elas não sabiam.
O afeto que a equipe toda demonstra até hoje pelo menino também é justificado por ele ter sido uma espécie de “professor”. “O Victor teve todas as viroses possíveis e imagináveis, complicava o quadro sempre, usou toda a munição médica que tínhamos na época. Ele nos ensinou muito”, diz Filomena cheia de emoção.
Um bom remédio
Não foi apenas referência de procedimento clínico que o menino Victor “ensinou” àquela equipe. O conceito de humanização, ainda mais dentro da UTI, não era forte há 15 anos. As mães quase não podiam tocar as crianças, as visitas eram com prazo e hora marcada. Ficar perto do leito junto ao filho era um privilégio que parecia durar apenas alguns segundos para a maioria delas.

“Mas já naquela época começamos a perceber que as mães mais carinhosas, aquelas que conversavam por entre o vidro da incubadora com os seus bebês, as mais participativas dos tratamentos eram também as que conseguiam mais altas hospitalares e melhor sucesso com suas crianças”, conta Filó.
Diva foi uma das que ajudou a médica Filomena a chegar as estas conclusões. Victor, de certa forma, auxiliou o hospital a reconhecer a importância do tratamento mais humano, com mais contato entre mãe e filho, aos moldes da estrutura que existe hoje.
As primeiras palavras
Oito meses de internação hospitalar foram completados e Diva pôde então levar o seu pequeno, agora com 3 quilos, para a casa. “O marco da vida do prematuro é diferente dos bebês que passam por uma gestação completa”, explica Filó.

“Aqui no hospital tentamos reproduzir o que o útero materno faria. Mas esta antecipação do nascimento também traz um tempo diferenciado para as primeiras palavras, os primeiros passos e em alguns casos até de aprendizagem”, explica a neonatologista.
Victor surpreendeu nisso também. “Mamãe” foi a primeira palavra dita aos 2 anos, logo em seguida dele começar a andar sozinho. Aos 6 anos, ele foi para a escola, no ensino tradicional, e apesar de ser bem pequenino e não caber na carteira, sempre acompanhou a classe.
Foram algumas internações por problemas respiratórios e visitas frequentes ao médico, bem mais do que seus colegas de classe. Aos 8 anos, entratanto, Victor já passou a acompanhar a curva de crescimento e de peso dos outros meninos.
Todo este processo foi acompanhado pela médica Filomena, atualizada sempre que o garoto retornava ao Santa Joana ou para celebrar junto com a equipe o Dia das Mães ou o seu aniversário. “A primeira vez que eu ouvi o Victor falar ele, enrolou a língua, e disse que queria ir ao mercado comprar bala. Nunca esqueci as palavras e fiquei bem emocionada”, lembra Filó. Neste último encontro, a frase dita pelo garoto também balançou a médica. Em português bem claro, Victor contou que já deu o primeiro beijo (na boca) em uma menina mais alta do que ele, mas não é “namoro não”.


Foto: Eduardo César/Fotoarena Ampliar
Victor exibe o livro onde estão registradas as histórias dos bebês prematuros cuidados no Santa Joana. Três páginas são dele
Esperança
O caso de Victor é emblemático para mostrar como Filó conduz a sua carreira que completa 27 anos em 2011. O garotinho, hoje forte e cheio de saúde, divide espaço não só no coração da equipe neonatal do Santa Joana mas também no livro onde estão as fotos do mais de 3 mil bebês que já passaram pelos cuidados das médicas e dos médicos de lá.

“Não esquece de falar do Dr. Franco, meu pediatra até hoje, porque eu adoro ele demais”, falou Victor à reportagem.
Em todas estas histórias registradas no livro do Santa Joana, Filó algumas vezes teve certeza da alta e da recuperação dos bebês. Em outras duvidou que isto seria possível (no ano passado uma menina nascida com 450 gramas foi para casa). Mas é também por ser mãe que ela sempre soube como lidar com estas perspectivas. "Existe algo que nenhum médico pode tirar do paciente que é a esperança", diz Filó. "Ser mãe de prematuro é vibrar por cada dia que a criança sobrevive na UTI. Ser médica de prematuro é também fazer isso”, contou.
Para quem dúvida, basta passar um dia ao lado de Victor, talvez futuro jogador de futebol de salão, que adora as garotas altas, deixando Diva e todas as “mães” da maternidade com um ciúme danado!


http://delas.ig.com.br/comportamento/diadasmaes/o%20encontro%20com%20as%20maes%20da%20uti/n1596834687105.html

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